Por Cleusa Duarte
Apesar de todos os avanços técnicos e científicos, a Hanseníase ainda faz milhares de vítimas todos os anos no País. Ao longo deste mês, ‘janeiro roxo’, os dermatologistas brasileiros, em apoio à tradicional mobilização do Ministério da Saúde, farão circular entre médicos, pacientes e outros profissionais da saúde informações de utilidade pública preparadas por especialistas da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). Entre os tópicos abordados estão a descrição de sinais e sintomas da hanseníase e orientações sobre onde buscar diagnóstico e iniciar o tratamento. De acordo com a Secretaria de Saúde da Bahia (SESAB), em 2020 foram registrados 1. 306 casos novos da doença, destes 49 em crianças menores de 15 anos, em todo o Estado.
Doença infecciosa crônica e curável que causa, sobretudo, lesões de pele e danos aos nervos. A hanseníase, antigamente era conhecida como lepra. Ela é causada por infecção com a bactéria Mycobacterium leprae. Afeta principalmente a pele, os olhos, o nariz e os nervos periféricos.
Os sintomas incluem manchas claras ou vermelhas na pele com diminuição da sensibilidade, dormência e fraqueza nas mãos e nos pés. A lepra pode ser curada com 6 a 12 meses de terapia com vários medicamentos. O tratamento precoce evita a deficiência.
Para alertar sobre a doença, a SBD lançou o Janeiro Roxo, que este ano, além de material publicitário (cards, posts, vídeos), também foi desenvolvido um site sobre o tema. "A hanseníase é negligenciada, a sua saúde não! " é o tema. Também será abordada a necessidade de se eliminar o estigma e o preconceito contra as pessoas com a doença.
"Situação negligenciada é aquela que é alvo de desatenção, desconsideração, displicência, descaso, indiferença, menosprezo. Infelizmente, apesar da detecção de 30 mil novos casos da doença a cada ano, a hanseníase ainda é considerada assim: uma doença negligenciada", pontuou o presidente da SBD, Mauro Enokihara.
Segundo ele, ao alertar a população sobre este tema, a entidade pretende assegurar a todos o acesso a informações que ajudem a tirar o Brasil de uma triste posição: o segundo lugar mundial em número de casos de hanseníase, perdendo apenas para a Índia. Todos os anos são diagnosticados, em média, 30 mil novos casos da doença no País.
Janeiro Roxo, foi instituído no Brasil em 2016, tem como data símbolo o último domingo deste mês, quando é celebrado o Dia Mundial de Combate e Prevenção da Hanseníase. Para marcar o período, a SBD planeja também realizar eventos online, divulgar depoimentos de pacientes e celebridades, estimular a iluminação em roxo de espaços públicos e monumentos. Todas as ações visam reforçar o compromisso de prevenir e combater a hanseníase, por meio do diagnóstico e tratamento precoces.
A dermatologista Shirlei Moreira do Ministério da Saúde constata que a doença atinge 10% de cada população, “isso significa que se em salvador temos 3 milhões de habitantes, então 300 mil podem obter a Hanseníase. Não significa que temos esse contingente de doentes, mas podem contrair pelas estimativas. Seria uma parcela grande da população.” A dermatologista ainda informa que "ter ou não a doença vai depender do perfil genético de cada indivíduo.”
Shirlei comenta, “A transmissão ocorre pelas vias aéreas superiores (tosse ou espirro). A doença é transmitida de pessoa para pessoa. Uma das maneiras de evitar é usando máscara de proteção , o mesmo ocorre com tuberculose, gripe e meningite.”
Prevenção e Preconceito
Para prevenir, ao primeiro sinal a pessoa deve procurar o diagnóstico e, se constatada, realizar o tratamento. É importante também divulgar a educação sanitária e tomar a vacinação BCG
Outra preocupação da SBD é com o preconceito. "Combater o estigma é salvar vidas. Por isso, queremos auxiliar a sociedade a compreender essa doença. Desfazer mitos e fazer prevalecer a verdade sobre a hanseníase são as principais formas de ajudar profissionais da área de saúde, familiares, amigos e principalmente aqueles que buscam por tratamento", ressaltou o vice-presidente, Heitor Gonçalves.
Para dar dimensão a esse alerta, a SBD convidou neste ano instituições de referência nacional. Além de representantes das Secretarias de Saúde dos Estados (Conass) e Municípios (Conasems), também foram convidados a encampar esta luta - por meio da iluminação de suas sedes e filiais ou distribuição de conteúdo digital - o Conselho Federal de Medicina (CFM), a Associação Médica Brasileira (AMB), a Confederação Nacional de Municípios (CNM), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e o Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
No Brasil, o tratamento para a hanseníase é gratuito e oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Os pacientes podem se tratar em casa, com supervisão periódica nas unidades básicas de saúde. De acordo com Sandra Durães, coordenadora do Departamento de Hanseníase da SBD, se trata de uma doença infecciosa que pode levar a incapacidades físicas, mas o tratamento precoce promove a cura.
Na Bahia, no período de 2016 a 2020 foram notificados 10.398 casos, destes 565 em crianças e adolescentes até 14 anos. Em 2020 (dados preliminares) foram registrados 1306 casos novos da doença, destes 49 em crianças menores de 15 anos e 2019, foram notificados 2289 casos novos, sendo que destes, 125 foram em crianças e adolescentes. Nesse período, o coeficiente geral de detecção passou de 13,48 casos por 100 mil habitantes (2016) a 8,45 casos por 100 mil habitantes em 2020. Enquanto, o Coeficiente de Detecção de Hanseníase em Menores de 15 Anos passou de 2,96 casos por 100 mil habitantes (2016) para 1,28 casos por 100 mil habitantes em 2020.