Por Filipe Oliveira
O anúncio do encerramento das atividades da Ford no Brasil, realizado na última segunda- feira (11) tem causado transtornos na vida dos caminhoneiros que realizam entregas de materiais no polo de Camaçari. Muitos dos trabalhadores estão há sete dias no local e não conseguem descarregar materiais e peças como pneus, alternadores, sensores, motores de arranque e partida de freio. Estima-se que atualmente haja cerca de 90 caminhões estacionados em frente à empresa, vindo das regiões de Minas Gerais, São Paulo, Porto Alegre, dentre outras. Os trabalhadores têm enfrentado dificuldades financeiras e estão compartilhando alimentos para se manterem.
O caminhoneiro Jadison Xavier veio de Extrema, no Sul de Minas Gerais, e enfrentou três dias de estrada até chegar em Camaçari. Ele conta que chegou ao município na última segunda-feira (11) e já encontrou no local cerca de trinta caminhões. O seu horário de entrega estava agendado para as 22h. “Eu cheguei e não sabia de nada, só vi que a fábrica estava fechada. Nós estamos parados aqui, ninguém deu satisfação de nada, só um cara que disse que talvez a gente descarregue hoje ou segunda-feira, mas previsão certa mesmo a gente não tem”. Xavier saiu de sua cidade deixando mulheres e filhos e lamenta que não recebe nem a comissão por estar parado sem realizar a entrega.
Sem resposta da Ford ou das próprias empresas prestadoras de serviço, os profissionais enfrentam dificuldades e precisam compartilhar alimentos para não passar fome. “Os próprios caminhoneiros estão se apoiando, um dá o feijão, outro ajuda na vaquinha, fomos ao mercado e assim temos ajudado uns aos outros”, comenta Xavier. Segundo o motorista, a Ford não passou nenhuma informação do que deve ser feito com a carga. Ele e outros caminhoneiros entregam as peças em Camaçari e voltam com os vasilhames para as fabricantes em São Paulo. “Tem gente que tá há uma semana parado aqui. Nós precisamos de uma solução, sem andar não ganhamos nada e precisamos sustentar nossas famílias”, lamenta.
O motorista Maurício Freitas, que é de Muriaé (MG) e veio de Limeira (SP) - enfrentando dois dias e meio de estrada trazendo peças para a montadora -, comenta que está em Camaçari desde sexta-feira (8) e não recebeu nenhum posicionamento dos responsáveis. “Estamos a ver navios, ninguém tá fazendo nada, o pessoal está revoltado já. Ninguém toma uma atitude, ninguém fala nada ‘é só aguardar e aguardar’, a gente realmente está sem saber o que fazer”, ressalta. Para ele, é importante que haja um posicionamento da Ford, mesmo que seja uma ordem para retornarem. “Pra mim seria até melhor, ficar parado aqui sem fazer nada é muito ruim. Seria uma opção melhor ir embora e devolver as peças, do que ficar mais um final de semana aqui” sugere. Os trabalhadores temem ainda o desemprego, já que a maioria deles fazia entregas apenas para as fábricas da Ford.
O vice-presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas do Estado Da Bahia (Setceb), Antônio Siqueira, comenta que as transportadoras são responsáveis por arcar com as despesas dos motoristas. “Essas cargas vêm das fábricas que alimentam as linhas de produção da Ford. Cabe às transportadoras arcar com as despesas e estadia dos trabalhadores caminhoneiros, mandar devolver ou não os materiais e depois resolver com a Ford”, comenta.
Em nota, a Ford comunicou que está informando aos seus fornecedores que os caminhões que estão parados na fábrica ou a caminho, deverão retornar aos respectivos fornecedores e essas questões serão tratadas diretamente pela própria Ford com cada empresa. Os trabalhadores entrevistados pela Tribuna disseram que não foram informados sobre a orientação da empresa e seguem aguardando posicionamento.
De acordo com a Prefeitura de Camaçari, o fechamento da Ford representa uma perda de 10% na arrecadação de receitas após o encerramento das atividades da empresa no Brasil. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari, Júlio Bonfim ressalta que o fechamento da Ford resultará no desemprego de 12 mil trabalhadores diretos e mais de 60 mil indiretos. A Ford alega que serão cinco mil empregos afetados. Instalada em Camaçari em 2001, a empresa foi a primeira montadora do Nordeste com um investimento de U$1,2 bi e chegou a produzir 250 mil carros por ano.