O presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco, rebateu críticas à política de preços de combustíveis da estatal e afirmou que não há exagero nos reajustes no Brasil. Segundo ele, as decisões sobre o assunto são reflexo do mercado de petróleo e levam em conta princípios da governança. "Ninguém fica sentado em casa aumentando preços, é um trabalho de equipe", explicou em teleconferência com analistas para detalhar o resultado da Petrobrás no quarto trimestre de 2020.
O executivo se pronunciou ontem pela primeira vez após a intervenção de Jair Bolsonaro na estatal - ele indicou o general da reserva Joaquim Silva e Luna para o comando da empresa, por não concordar com os reajustes de combustíveis feitos pela companhia.
Ele disse ter sido acusado injustamente de falta de transparência e que "o preço dos combustíveis ainda é alvo de palpites de jogo de futebol". Para Castello Branco, não há exagero nos preços no Brasil, embora os impostos sejam elevados. "Falo isso baseado em estatísticas com preços de 160 países. A média dos preços do País está abaixo da média global. Mesmo se corrigirmos pela renda per capita, o preços ficam ligeiramente abaixo da média global", afirmou, na teleconferência.
Castello Branco vestia uma camiseta com a frase "mind the gap", que significa "cuidado com o vão" e é usada em estações de metrô em cidades de língua inglesa para alertar os passageiros sobre o vão entre o trem e a plataforma. "Gap" também pode se referir a intervalo ou à defasagem entre duas coisas.
"Petróleo é commodity, cobrada em dólar, não há como fugir", disse. "A empresa ainda é muito endividada, em dólar; como conciliar com receita em real?", disse executivo, acrescentando que, "se o Brasil quer ser uma economia de mercado, tem que ter economia de mercado". "Preços abaixo do mercado geram consequências negativas."
Este ano a Petrobrás já reajustou os preços nas suas refinarias quatro vezes. Com isso, diesel e a gasolina acumulam alta de 27,5% e 34,8%, respectivamente, em 2021.
Os números de 2020, divulgados na quarta-feira, 24, mostram que a empresa teve lucro líquido de R$ 59,9 bilhões nos últimos três meses do ano, um salto de 635% ante igual período de 2019, resultado muito acima do esperado por analistas e o maior para um trimestre, pelo menos, desde 2008. No acumulado do ano, a empresa conseguiu um resultado positivo, mas bem menor, de R$ 7,1 bilhões.
Fonte: Estadão Conteúdo